domingo, 21 de novembro de 2010

A escovinha e a ternura que ela me causa...

Estávamos todos reunidos (eu, o Dioniso, o tio Maurício, a vovó Glória, a mamãe Renata, o papai Rodrigo), na parada do ônibus. Os adultos já com o humor azedado de cansaço pelo trabalho realizado num fim de semana e pela espera infinita. Perguntei à minha irmã quando ela iria ao dentista, e dali surgiu a conversa sobre o assunto: dentistas e lembranças relacionadas a isso. O Dioniso estava sentado sobre os pés da Renata, ouvindo atentamente a conversa. Levantou o dedo indicador, como quem pede a vez para falar e disse: "Da última vez que eu fui no dentista, eu ganhei uma escovinha de dentes", e sacudiu a cabeça em afirmação ao que acabava de dizer.
Eu ri! Sim, ri um riso de quem se sente repentinamente emocionado, uma gargalhada rápida de paixão pela singeleza do momento. Estava escuro, estávamos cansados, estávamos ansiosos (os adultos) por nos afastar para os merecidos lares e descansos. E naquela escuridão movimentada da capital, o menininho de seis anos se lembra de um momento importante que, talvez, a idade o faça esquecer... O menininho e sua escovinha de dentes. Eu ri o riso de quem ama, e de quem sente a melancólica saudade de um ínfimo momento, fugaz como um relâmpago, do qual não ficou nenhum registro a não ser sua marca na minha memória e nas lágrimas que ela me traz... O menininho de seis anos (já todo cheio de si, como são os menininhos de seis anos) e sua escovinha de dentes!
Eu sorrio, ainda agora, ao me lembrar de seus olhinhos voltados para cima, ao contar a lembrança que contribuía para a conversa. Eu sorrio esse sorriso de quem sabe que o tempo passa, e que nos tornamos críticos de nós mesmos com o passar do tempo - e imagino o quanto ele mesmo pode se achar tolo, ao recordar, daqui a uns quatro anos... Mas não foi tolo. Foi belo, incontestavelmente genuíno e belo.
Que ternura que me causou naquele momento em que recorri ao riso em vez de agarrá-lo nos meus braços, apertando-o e enchendo-o de beijos! Queria tê-los retido, ao menininho e ao momento em que ele foi o que foi, retido por uma pequena eternidade. Ele não entenderia, e me acharia maluca. Talvez estivesse mesmo maluca, mas dessas maluquices que nos constituem como seres emocionais. O que sei sobre isso? Sei apenas que ainda me vejo sorrindo e chorando ao lembrar seus olhinhos e sua voz: "... uma escovinha de dentes"...